quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


“Trata-se de uma bóia de salvamento”

Entrevistas improváveis: Sr. Ministro, parece-lhe razoável o Estado dar garantias a um Banco cujo core se situa na área do private banking?

Teixeira dos Santos: Não sei isso do core. Vocês, jornalistas, têm a mania de que nós, ministros, temos que saber tudo de cor. Essa mania vem desde o tempo do desconhecimento do valor do PIB pelo Guterres. Outro dia, foram as dívidas da Saúde. Repare, eu apenas sai de cor que a minha mulher deve € 35 na farmácia, mas vamos arranjar uma receita. Comprei Omeprazol, pois foi, esta discussão do orçamento provocou-me imensa azia.

Ei: E as garantias ao BPP?

TS: Nós não iremos dar garantias ao BPP. Iremos garantir os empréstimos que este contrair junto da banca nacional. Ora, como sabemos, existe um risco sistémico de o sistema colapsar.

Ei: Como um baralho de cartas?

TS: Não, como um jogo de dominó. O chamado efeito de dominó.

Ei: Isso, esse efeito, trata-se de transmissão em cadeia?

TS: Não, nada do que decidimos dá cadeia.

Ei: Não lhe parece uma private joke, financiar um banco que se dedica ao private banking?

TS: É isso mesmo. Temos que encarar o futuro do sector bancário de forma positiva, com sentido de humor.

Ei: Mas os contribuintes portugueses não vão entender…

TS: Mas entendem os das Ilhas Caimão ou Faroe…

Ei: Mas esses não votam…

TS: Não governamos para os que votam em nós.

Ei: Voltando ao BPP; os clientes deste banco sabiam que tinham investimentos de risco.

TS: Os clientes não riscam nada. Aqui quem decide é o governo. A senhora ministra da educação é que tem que ouvir todas as partes envolvidas, eu não. Só me faltava ter que ouvir os 200 clientes do BPP…

Ei: 200?

TS: Vá, 100! Mas mesmo assim. São muitos e aborrecidos. O Balsemão, por exemplo, depois quereria potenciar o encontro comigo com cobertura noticiosa na SIC notícias, notícias no Expresso, reportagens na Visão sobre como decorrem as reuniões à porta fechada com os ministros, com o DN e o Bettencourt a querer também opinar e com a Caras. Trazia convidados e champagne e eu, como sabem, não bebo nas horas de trabalho.

Ei: Mas se os investimentos têm um risco associado, não lhe parece que os contribuintes não podem agora ser onerados desse risco?

TS: Os contribuintes portugueses já nos conhecem. Sabem que o risco de virem a ter que efectivamente suportar os custos da utilização das garantias, é mínimo.

Ei: Porque o dinheiro, desta vez, vai ser bem aplicado?

TS: Não, porque não irão gastar mais do que o salário mínimo.

Ei: Mas há pessoas a quem o salário mínimo faz muita falta….

TS: Porque não têm perfil de investidores. Se investirem as suas poupanças, poderão ver os seus rendimentos crescer. E depois, não necessitarão de mais ajudas do Estado.

Ei: O Estado não os está propriamente a ajudar…

TS: Parece-lhe que não? Então e quando forem grandes investidores e aplicarem os ganhos no BPP? Já se esquecia….

Ei: Isso é muito pouco provável…

TS: Tanto como esta entrevista. Mas na realidade, os contribuintes têm que compreender que o esforço que lhes vier a ser pedido não é nada, comparado com a perseguição que o Macedo lhes fazia, nos impostos.

Ei: Aquilo que se diz é que é sempre a eterna classe média a ser penalizada…

TS: Que ideia. É a classe média que tem mais carros, mais casas, mais emprego.

Ei: Porque são mais…

TS: Isso são. É uma classe que, em média, é maior do que as outras. Por isso se denomina “classe média”.

Ei: …pensei que isso tinha a ver com a classe de rendimentos…

TS: Por isso é que você é apenas jornalista e eu ministro.

Ei: Aahh…

TS: …Para além destas medidas, vamos igualmente reforçar os apoios de praia.

Ei: Os apoios de praia?! Mas ainda nem começou a época balnear!

TS: Sempre a mesma perspectiva de curto prazo. Só quando começa a onda de calor é que preparamos as épocas, balnear, florestal. Não! Com este governo, será o fim das eternas tábuas de salvação.

Ei: Pois…

TS: Doravante, utilizaremos apenas “bóias de salvamento”.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008




“Já acabámos, mas a minha mulher sabia”

Entrevistas improváveis: Qual o seu real envolvimento com a Sociedade Lusa de Negócios?

Dias Loureiro: Tivemos um caso, em tempos, mas já acabámos. A minha mulher sabia, agradeço-lhe que registe…

Ei: Não se preocupe, a ressalva será publicada. Continuando...pode descrever o tipo de envolvimento?

DL: Normalíssimo. Sabe, eu sempre gostei de água do Luso; no fundo, é disso que se trata.

Ei: Meteu muita água dessa?

DL: Muita, muita…

Ei: Mas ficou farto?

DL: Claro! Por isso fui ao Banco de Portugal, falar com o Marta…

Ei: Mas ele não diz isso. Ele diz que o Dias Loureiro lhe perguntou porque andava atrás dele…

DL: Acha isso verosímil? O meu envolvimento era com a Sociedade Lusa de Negócios, nunca quis nada com o Marta. Até porque, como deve saber, é extremamente difícil manter relações desse tipo.

Ei: Fale-nos da Sociedade Lusa de Negócios.

DL: Que dizer? Trata-se de uma Sociedade normalíssima, com quem me envolvi. É uma sociedade portuguesa, daí o “Lusa”. Foi uma escolha original e pertinente, sem dúvida: Lusa, diz logo que é portuguesa. E de negócios. Porquê? Porque faz…

Ei: …negócios?

DL: Isso! Vê? Tudo dentro de uma lógica de forte transparência…E esse era o nosso principal objectivo. Que as pessoas percebiam o que fazíamos, com total transparência.

Ei: E a irmã cabo-verdiana?

DL: É a irmã que todos gostaríamos de ter, quando vamos a Cabo Verde.

Ei: Eu não vou assim com essa frequência a Cabo Verde…

DL: Mas muita gente vai. E convém encontrarem lá conforto. Vá que é necessário levantar dinheiro. Está lá, é simples.

Ei: Mas o dinheiro nunca lá parou durante muito tempo, seguia directo para comprar…

DL: …coisas que fazem falta! Empresas, falidas ou não, com negócios, produção ou não, não interessa, dá sempre jeito, nunca se sabe o que faz falta.

Ei: Isso parece um pouco vago…

DL: Mas não é. Por exemplo, eu tenho a minha garagem cheia de tralha, guardo tudo, porque mais tarde pode fazer-me falta.

Ei: O Oliveira e Costa tinha papéis comprometedores escondidos numa cuba…

DL: Ele gostava de Cuba, mais do que de Cabo Verde. Não era por acaso. Ele escolheu uma cuba por questões afectivas.

Ei: E agora está preso…

DL: Não, isso não tem nada a ver.

Ei: Não acha estranho ele ter dividido todos os bens com a mulher em Março deste ano?

DL: Ele sempre foi muito amigo do seu amigo. E ela era seu amigo.

Ei: Sua amiga…

DL: Não, eu não a conhecia…

Ei: Não, de Oliveira e Costa.

DL: De Oliveira e Costa o quê?

Ei: Ela…amiga…

DL: Ele é que era.

Ei: Deixemos isso. Mas…ficou apenas com €20 mil e acções…

DL: Era mesmo muito amigo. E agora está pobre. Quem adivinhava que as acções iam desvalorizar tanto?

Ei: Pois…mas o Estado nacionalizou o BPN…

DL: Isso ajuda, mas não é tudo. Temos ainda muitos amigos que estão aflitos porque têm perdido dinheiro.

Ei: Gostava de ter uma Sociedade nova?

DL: Não. Agora só bebo Serra da Estrela.

Ei: Mas vai demitir-se do Conselho de Estado?

DL: Não. Gosto imenso do Cavaco. E ele de mim.

Ei: Mas pode colocá-lo mal…

DL: Não, eu tenho muito jeitinho e ele sabe disso.