domingo, 16 de novembro de 2008

"Não me admira que surjam novas forças políticas à direita e à esquerda"

Entrevistas improváveis (Ei): Vai ao congresso discutir ideias?

Manuel Alegre: Não, prevejo um dia de chuva bastante frio.


Ei: Mas é no congresso que pode discutir a linha que está a seguir o PS?

MA: Não pretendo discutir a linha que o PS segue, prefiro discutir a linha que o PS não segue…


Ei: Porque o partido era mais democrático?

MA: Não, porque não há maneira de avançar com o TGV e a linha de alta velocidade.


Ei: Mas deixe-me insistir na pergunta: não é importante ir ao próximo congresso discutir as alternativas do PS?

MA: Calma. Isso é aborrecido e até um pouco irritante. Se eu quisesse ir, ia.

Ei: Há quem diga que muitas das suas posições são pautadas com o cultivar de um espaço para poder voltar a ser candidato à Presidência da República.

MA: Ao longo da minha vida tenho cultivado inúmeras coisas. Cultivei beterraba, couve-roxa e até sardinha assada, muitas delas em casa da minha avó.

Ei: Falou num défice da oposição. Há quem diga que isso acontece porque o PS invadiu a direita, e portanto a oposição tem estado a fazer-se à esquerda. Acha que efectivamente as políticas do PS invadiram o território que outrora era do PSD?

MA: Acho isso demasiado confuso, nem entendo bem a pergunta. Já não me lembro bem das invasões, embora tenha o assassinato do arquiduque Francisco Fernando muito presente. As invasões russas também me chatearam bastante.

Ei: Mas à esquerda a oposição está forte, ou não?

MA: O Sócrates corre com alguma frequência e o Louçã às vezes vai ao ginásio (penso eu).

Ei: E o PS terá capacidade de virar à esquerda ainda?

MA: Depende da direcção que tomar. Se for pela direita, é natural que vire na primeira à esquerda.

Ei: Se isso não acontecer, votará PS na mesma, em 2009?

MA: Em 2009 devo ir ao Egipto, há um hotel muito bom no Cairo onde ainda não estive. Não sei se regresso a tempo de votar.

Ei: E o senhor vota PS, ainda? A este tempo de distância das eleições...

MA: Pois. Se ficar por lá, voto como emigrante.

Ei: Estando no PS?...

MA: Não, no Cairo. Mas daqui até lá...


Ei: Já sentiu vontade de deixar o PS e passar a ser deputado independente, por exemplo?

MA: Desde a “Senhora das Tempestades” que não tenho sossego.

Ei: Já aconteceu, dentro do PS e noutros partidos...

MA: Sim, mas eu não faria isso.


Ei: Mas, não estando no PS, onde é que o senhor poderia estar?

MA: No Cairo, como lhe disse.

Ei: A este tempo de distância, vê-se a participar numa campanha eleitoral ao lado do seu camarada José Sócrates?

MA: Isso é um problema meu! Estou, digamos, num período de reflexão. Fui candidato às eleições presidenciais, tive aquela votação, não foi um milhão, foi mais de um milhão, foi um milhão e cento e trinta mil, não um milhão centro e quarenta e dois mil, não um milhão centro e quarenta e sete mil, cinquenta mil, vá.

Peço desculpa pelo arredondamento [feito no lançamento da entrevista na rádio].

[risos] Foi um milhão e cento e setenta mil. E isso deu-me uma certa responsabilidade. Há muita gente que se volta para mim, e eu não sou a Santa da Ladeira, e me pede uma solução milagreira. Eu não tenho nenhuma solução milagreira no bolso, mas tenho uma lata de sardinha em molho de tomate e um saca-rolhas.

Ei: No partido ou no Governo?

MA: No bolso das calças.


Ei: E está a falar de José Sócrates, que é o líder do PS e primeiro-ministro?

MA: Com o José Sócrates tenho tido uma boa relação pessoal. Estas calças, por exemplo, são dele…

Ei: Isso significa que não será candidato a deputado nas próximas legislativas?

MA: Posso devolver-lhas entretanto…

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